quarta-feira, 17 de junho de 2009

Fotografia e memória - Lendo fotografias

Em uma das minhas pesquisas diárias sobre fotografia, encontrei o texto abaixo do designer, fotógrafo e historiador, Yuri Bittar, que escreveu para o site da Confederação Brasileira de Fotografia e que gostei muito achando ser de muita valia para você. É uma reflexão sobre a fotografia como representação da realidade e uma análise que temos individualmente de cada foto.
"O que a foto mostra? A fotografia mostra os objetos, pessoas e lugares presentes na cena, sua relação espacial, cores, formas e luzes. Isso é o que ela mostra e é muito diferente do que ela diz. Então o quê uma fotografia nos diz? O que ela nos diz depende do nosso repertório, dos nossos conhecimentos, da nossa intenção para com a imagem, da nossa disposição em prestar atenção á foto, enfim, é algo que se constrói entre nossa mente e a imagem. A legenda ainda, se houver, é outra informação. A legenda não é uma verdade. Ela é o que foi escolhido para ser dito.

O que a foto não mostra? A foto não mostra quem a fez, como, por que, com que equipamento, em que condições, ás vezes nem quando ou onde.

O que a foto dá a entender? Parte do que ela não mostra podemos supor. Pelo cenário podemos supor o local, a época. Pelas características da imagem podemos imaginar o equipamento e até que fez a foto e sob qual intenção.

Ao estudar uma imagem devemos saber para quem ela foi feita, para quê ela deveria ser vista e o que ela impactou sobre quem a observou, no seu contexto original. Ao examinarmos uma foto de cartão postal, por exemplo, temos que entender como aquela imagem foi vista na época em que foi feita.

Mas é importante obtermos o maior numero de informações possível, pois uma imagem simplesmente jogada e sem informações pode nos dar pistas falsas. Segundo Cássia Denise Gonçalves, em seu artigo “O Nome das Coisas”, uma fotografia fora de seu contexto pode nos iludir, podemos ver uma representação diferente do que o autor da foto teve intenção de produzir, e diferente também do que viu o espectador original da foto.
Vamos analisar a foto acima, por exemplo:

1. O que ela mostra? Podemos ver que é um local antigo, em ruínas, onde um casal posa para o fotógrafo com um carrinho de bebê. Aparentemente há um bebê dentro. A foto está desbotada.

2. O que ela nos diz?Podemos perceber que o local se trata do interior do Coliseu, em Roma. Pelo desbotamento da foto, que é colorida, e pelos trajes, podemos saber que é do final dos anos 70. Podemos imaginar que o casal é de turistas, de nacionalidade indefinida.

3. O que a foto não mostra?O que ela não nos mostra é que se trata de um casal de brasileiros, de fato em Roma, em 1977. Na verdade esta viagem foi a do meu batizado, portanto o bebê sou eu e o casal minha mãe Cristina e meu pai Samir. Fui batizado em 77 na Basílica de São Pedro.
Na época meus pais viajavam muito. Não que fossemos ricos, mas meu pai viajava á trabalho e ás vezes levava a família.

4. O que a foto dá a entender?Para quem não tem as informações que passei acima, o que pode-se supor é que trata-se ou de um casal europeu, ou de um casal rico, pois é muito caro viajar para a Europa. Ou pode ainda imaginar que é um típico casal italiano, o que seria uma falsa informação.

A fotografia selecionada e a “instituição-memória”

Quando vamos á um museu, exposição ou outro local que guarde a memória da sociedade, um local chamado “instituição-memória”, e lá vemos fotografias, devemos lembrar que essa imagem está fora do seu contesto original. Essa fotografia pode ter sido feita para ficar na parede de uma saca de família, ou para se publicada em um jornal, revista ou livro, enfim, não para ficar exposta num museu.

Ao examinar uma imagem dessas precisamos ainda levar em conta o fato de ela ter sido selecionada. Então além de todos os aspectos anteriores que devem ser levados em conta, ainda devemos refletir nos motivos que levaram á essa seleção, que á escolheu, qual o projeto da instituição, o sentido político, etc...

Ler uma fotografia é, claro, observar a mensagem que ela nos passa diretamente. Mas é, sobretudo entender seu contexto, o que estava por trás da câmera, sua relação como o universo das imagens de sua época e o impacto que ela teve sobre quem a observou. A fotografia é sempre uma representação e precisamos entender o que ela representa e como foi construída essa representação".

Yuri Bittar

4 comentários:

  1. Ah! Já tenho uma boa leitura para quando chegar em casa... Valeu!

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  2. Realmente a fotografia congela o tempo e ao mesmo tempo aquece nossos corações quando vemos registros de um tempo que não volta mas que luz pode torná-lo senão eterno, infinito...
    Parabéns pelo blog.

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  3. Eu adoro seu blog, eu aprendo muito aqui, obrigada por todas as informações.
    Bom fim de Semana.
    bjs

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  4. Valeu pelo elogio cris!
    Qualquer dúvida é só deixar um comentário.
    abração!

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